quarta-feira, 23 de outubro de 2013

De volta a Bangkok

Depois de algumas leituras e indecisões, optámos  por fazer a viagem de Siem Reap de volta a Bangkok num único autocarro para evitar as complicações e atrasos com transbordos. Quando chegou um minibus para nos vir buscar ao hotel, pensámos que nos levaria até à paragem de autocarro, como já tinha acontecido. Após 15 minutos de caminho para fora da cidade, "pronto, se calhar vamos só até à fronteira, são só duas horinhas...".


Imbuídos nesta crença, enfrentámos mais de uma hora entre carimbos, travessias, esperas, salas a abafar e quilos às costas com esperança de chegar ao autocarro e descansar até Bangkok. Era lindo que isso acontecesse. Mas, estamos na Ásia e aqui as coisas - já devíamos ter aprendido - são à maneira deles, como eles bem entendem. Portanto, derretem-se as esperanças (e tudo mais) com um "15 minutos para almoço que depois são quatro horas sem parar" dentro de um minibus. Treze pessoas, mais motorista, mais mil mochilas a tapar tudo quanto possa ser vista para a estrada. Autocarro VIP só no folheto mesmo. E na lábia do rapaz da agência.

Não, as viagens não podem ser uma coisa normal nesta viagem. Pode ser tudo perfeito, mas depois há o momento das viagens. Obviamente perdemos a oportunidade de concretizar alguns planos para esse final de dia em Bangkok, mas vingámo-nos tão, mas tão bem que repetiríamos tudo sem tirar nem pôr.

Por ordem cronológica, basicamente as coisas sucederam-se da seguinte forma (segurem-se os invejosos, agora é tempo de nos mimarmos a valer): hotel - banho de piscina debaixo da trovoada - jantar - passeio pela envolvente Khao San Road - compras - massagem - cama. Também merecemos e não podíamos deixar de viver esta cidade que nos conquistou facilmente sem a pressão de ter que visitar isto ou conhecer aquilo. It's just about us and the city.


Voltámos ao hotel onde tínhamos estado e somos recebidos com o sempre agradável "não temos disponível o quarto que reservaram, mas, se não se importarem, podemos instalá-los no superior deluxe". Terá que ser. Calções e biquíni fora da mala, próxima paragem: piscina ao ar livre no cimo do hotel. Com direito a espetáculo de relâmpagos.


Depois do jantar, servido picante e com animação ao vivo do outro lado da rua (o álcool faz coisas do caraças nas pessoas), deixámo-nos levar por tudo o que de contagiante a famosa rua de Bangkok oferece de mão beijada. Aqui, é deixar o espírito livre e ir na onda. Ah, e fazer massagens. Ir à Tailândia sem se submeter às famosas massagens também não é fazer a coisa bem feita. Meia horinha é suficiente para fazer milagres por umas costas massacradas com quilómetros de peso. Dormimos que nem anjinhos.














No último dia antes do regresso a Portugal, tínhamos que fazer o percurso óbvio de ir visitar a parte da zona do Grande Palácio, com uma dezena de edifícios exuberantes que pretendem manter o espírito do império tailandês. Procurámos um tuk tuk (boa piada, como se fosse preciso), mas ele fez-nos mudar os planos porque o Grande Palácio estaria fechado.

Seguimos, então para o Golden Mount, não sem eu ter um ataque de lucidez e me lembrar que os guias falavam desse golpe dos motoristas de tuk tuk dizerem que os templos e afins estavam fechados para nos levarem para outro sítio - mais longe e com o qual eles ganhavam alguma coisa. Caímos em parte do golpe, raios! Não que tenha feito diferença, mas...pá!




Enfim, íamos no Golden Mount e nas suas mais de 100 escadas até ao topo. Talvez a vista seja mais interessante ao final da tarde (mas tudo é sempre mais interessante ao nascer e ao pôr do sol? Isso quer dizer que podemos dormir no pico do calor? Boa!), mas não havia hipótese de comprovar. Valeu pelo encontro com um monge a meio das escadas, que nos ofereceu mais pulseiras da sorte. Se servissem para amenizar as dores das várias viagens é que tinha sido bem jogado.





À segunda lá fomos enfiar-nos no tal palácio. Grande proeza, diga-se, porque arranjar espaço entre as milhares de pessoas que lá estavam foi o cabo dos trabalhos. Todos lindinhos e bem compostos, que este lugar é rigoroso quanto a vestimentas ousadas. Bem vimos a menina dos micro shorts levar com o uma apitadela do guarda furioso. Tudo em nome da importância que estes edifícios têm para a nação.

É dourado e turistas por todo o lado, personagens mitológicas, budas que não se podem fotografar, torres de pormenores minuciosos, rituais de purificação, pins do Cristiano Ronaldo e fotografias via iPad para comprovar a passagem pelo lugar. Um lugar ao qual é difícil ficar indiferente. Mas ponham-nos debaixo deste calor de doidos, a tentar contornar manadas e manadas de turistas, que nós mostramos já como a indiferença pode vir a ganhar uns pontos valentes.











À tarde, tempo de nos metermos num táxi em direção ao aeroporto para voltar para casa. À saída, trazemos nas mochilas a certeza de que valeu a pena cada chatice, cada complicação, todo o cansaço e aldrabice. Vimos mais cheios e mais ricos, felizes por concretizar vontades de sorrisos constantes.




Mesmo que tenhamos agora acabado uma jornada de dia e meio de viagens, de peso às costas, de noites a dormir no chão dos aeroportos do Dubai (16 dólares por hora no hotel? Bom, a alcatifa não nos parece assim tão má opção) e de Madrid (mármore nas costas? Era mesmo o que nos apetecia!). O sorriso continua enquanto nos lembrarmos de como foi uma experiência inesquecível.

O Fim do mundo à direita é uma viagem constante. Por isso, para não perdermos a boleia da vontade, do sonho e da riqueza de emoções, estamos já em contagem decrescente para a próxima aventura. No próximo dia 1 de novembro, o GPS aponta o caminho da Guiné Bissau.


domingo, 20 de outubro de 2013

Cambodja – The Kingdom of Wonder / Siem Reap

Mais um autocarro, mais uma viagem. Cumpridas as seis horinhas de praxe, eis-nos em Siem Reap, novamente rodeados de tuk tuks prontos para nos levar ao hotel. Fizemos a melhor das escolhas (o rapaz haveria de se mostrar super prestável em todo o dia seguinte), mas achamos que ele ficou mais contente de nos levar a nós que outra coisa. É que não é todos os dias que se transporta esses seres afortunados que vêm do país do Cristiano Ronaldo. Oh rapaz, pára lá com as vénias e o beijar de mãos que o Daniel estava a brincar quando disse que era primo do CR7...



 Uma certeza quanto ao Cambodja: as pessoas são as mais simpáticas que encontrámos na viagem. Sorriem-nos na rua, são amáveis a receber, desdobram-se para fazer o que lhes pedes, dão conselhos de viagem e ainda te servem de sorriso constante e piadas pelo meio. Não faltam motivos para adorar o Cambodja.

Assim foi no hotel, onde fomos atacados com um serviço irrepreensível. Mais atenciosos era difícil, justificando bem o prémio do TripAdvisor deste anos.


Mas isto é e tem sido sempre a andar (só faltam mesmo dois dias?) e a verdade é que havia um estômago para alimentar. O tuk tuk deixou-nos no centro, na zona dos bares e restaurantes, um sítio animado, bem disposto e cheio de turistas a passear. Agradável nas sensações e bonito ao olhar.





Mais crianças a vender souvenirs, outras a pedir dinheiro, crianças com crianças ao colo e, em contraste, uma menina divertida, que também vendia nas ruas, a revelar-se já amiga de todos os turistas e que se divertia na conversa com eles. Já merecias que te comprasse qualquer coisa, só pelo “Thank you! I don’t work here, but I like you to come!”. Um impressionante nível de inglês, até para a idade. Aliás, por aqui não faltam escolas internacionais, não surpreendendo, por isso, que grande parte das pessoas saiba falar bem o inglês (mesmo que continuem a dizer “apter”...).

É bom saber que sabem dizer mais do que “want to buy something?” ou “massage lady?”, que foi o que mais ouvimos no pequeno passeio que demos até ao Night Market, um mercado que, apesar do número de mosquitos, apresenta-se mais agradável do que o que vimos até agora. Aqui não há comida, o que facilita a respiração, apenas souvenirs e massagens, num ambiente dos bons.



Mas a cidade não tem muito mais e talvez até seja melhor assim. Afinal quem ali pára é atraído pelos muitos templos, sobreviventes do império Khmer. Nós por cá, resolvemos seguir a tradição e levantámo-nos às 4 da manhã para ir assistir ao nascer do sol junto ao imponente Angkor Wat. Parece anedota, eu sei, foi o que nós pensámos quando saímos para a rua deserta ainda de noite: “olha que dois tolinhos!”.

Mas! Não eram apenas dois. Ao aproximar do local, começaram a ser dezenas os tolinhos, depois centenas os tolinhos acordados àquela hora. Parecíamos todos membros de uma seita a dirigir-se para um ritual secreto. Sim, faço muitos filmes quando não durmo.


Chegados à frente do monumento, havia que lutar por encontrar um bom lugar e por desviar das inúmeras câmaras, smartphones e iPads já em posição estratégica e em testes. Mas o que é isto...? Pá, vão ao Google buscar fotos, são iguais.


Durante meia hora, o sol lá vai fazendo desenhos de luz por trás do templo e nós percebemos que, afinal, essa coisa do madrugar faz sentido. É um espetáculo digno dos 20 dólares que se deixam à entrada, mesmo que eu continue a achar que isto de taxar a natureza...meh. Esta gente é muito esperta, faz dinheiro de tudo. E o momento ganha outra dimensão quando se ouvem as rezas matinas dos monges lá bem ao longe. Fomos atrás do som e demos por nós num templo com os monges a fazer a sua única refeição do dia, ao som de uma chinfrineira monumental. Aquela música naquele tom acorda até as pedras do Angkor Wat, credo! Bela aparelhagem têm eles.





A ideia do roteiro aos templos de Angkor é passar pelos restantes edifícios. Não fomos a todos porque são mais do que as mães, mas explorámos ao máximo o Angkor Wat, o espaço de Angkor Thom e o templo do Tom Raider, o Ta Phrom, com as árvores a crescer por cima das ruínas.











Em todos os templos, encontrámos monges budistas que, com pequenos rituais, colocavam pulseiras benzidas nos pulsos dos turistas que os descobriam. Diz que é para dar boa sorte, mas eu cá duvido que vá resultar comigo. É que a pulseira pressupõe um donativo em troca, que demos ao primeiro monge, mas que já não demos ao segundo, que me apanhou de surpresa, pôs-me um pauzinho de incenso nas mãos e já me estava a benzer a pulseira quando lhe disse que não tinha dinheiro comigo (é verdade!). Cheira-me que esta pulseira vem mas é com uma praga associada em vez de boa sorte.


Superstições à parte, é uma visita que vale bem a pena pela dimensão, envolvência e beleza dos templos. Mas, realmente, quem descobriu o nascer do sol em Angkor Wat soube vender muito bem a ideia. E ainda bem que a chuva (dilúvio!) tinha parado umas horas antes . já nos basta os pés nas poças e o frio matinal para ficarmos doentes.








Ainda atordoados com tanta agitação e ainda não é meio dia, fomos de tuk tuk até às aldeias flutuantes. Ficavam no fim do mundo, e era preciso atravessar uma estrada com mais buracos que um queijo suíço. Nossa, que viagem doida! Que dor nos rins! Que cabeçada!




A ideia que nos foi vendida foi que, por 20 dólares, andaríamos uma hora e meia de barco por entre as vilas e o mercado. Mas, a bem dizer, foram só uns 30/40 minutos, sem mercado e com uma passeio muito ao de longe por uma única vila. Bela fraude, que nos deixou frustrados e furiosos. Eu até cheguei a adormecer duas vezes. Num barco, imagine-se!





Achamos que o guia não gostou do facto de não querermos ir ao mercado comunitário ajudar, com alimentação, as crianças órfãs devido aos muitos tufões que assolam a zona todos os anos (o próprio pai dele tinha morrido num tufão).

Claro que não adianta fazer queixa porque eles põem-se a falar entre eles, nós não apanhamos uma e ainda sentimos que somos gozados. É a terra deles, as leis e regras deles. O turista que se sujeite. Enfim, é esquecer.

Mais vale ir dormir um bocado que o nosso mal é sono. Almoço na piscina do hotel e vamos mas é passar pelas brasas – finalmente! – que amanhã é dia de mais uma viagem. Desta vez, de volta a Bangkok. Está a fechar-se o ciclo e a terminar a aventura asiática pelo fim do mundo à direita.